sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Miss Terious e Sir Cuit - Putz!

Fiquei pensando na expressão "out of the blue" que a minha professora de inglês do colégio não sabia o que significava. E na mesma época eu descobria quais eram os prazeres de ser uma pessoa nesse mundo.

Ela estava voltando para casa, cantarolando algum jazz para tentar não dormir no volante... Entrava com o carro na garagem e alguém saia do prédio. Bateram no vidro.
Ela estava semi-dormindo, então achou que iam sequestrá-la, roubá-la, estuprá-la e tirar-lhe os rins.
O rapaz sorriu.
Por alguns instantes, durante o choque, ela ficou imaginando por que diabos o sádico que ia roubar seus rins estava rindo. E então notou: ela conhecia o sádico dos rins. Ela conhecia o sádico dos rins!! Não só conhecia, como fazia quase uma década que não o via.
Desceu do carro:
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!! Que que é isso???!!!!!!!!!!
- E aííí!!!
- Meu, que diabos você está fazendo saindo do meu prédio plena madrugada de 2008?
- Então, cheguei ontem, tava passando aqui na sua rua, quis tentar ver se você ainda morava aqui.
- Chegou da onde???!!!!!!
- Austrália, meu, não acredito que você chegou bem na hora. Aonde você estava?
- Nunca perguntei aonde você estava, não me venha perguntar aonde eu estava! (risos)
- Bom, beleza, tá chique, hein!
- É, tava num bar com uns amigos...
- (risos)
- Mas meu, muita coincidência isso, não? E aí, o que você fez nos últimos dez anos?
- Nossa, temos que sentar em algum lugar e ir de ano em ano, milhões de coisas. E você está trabalhando com que?
- Algo muito chato. E você?
- Cinema, Austrália.
- Putz!
- Putz!
Ficaram olhando um para cara do outro durante vários segundos.
Ela tinha vontade de dizer, "meu amigo, meu amigo, como eu pude me esquecer de você, por que você desapareceu, que saudade eu estava de nossas conversas".
- Quando você volta para lá?
- Daqui dois meses.
- Putz!
- Putz!
Eles não sabiam o que dizer. Havia tanta coisa que, na síntese, não restava nada. Haviam vivido tantas coisas, que era como se nunca tivessem se separado, mas aquele longo intervalo de tempo, em que tudo aconteceu, deixava apenas silêncio em suas bocas e êxtase no olhar.
- Vamos tomar alguma coisa.
- Vamos amanhã, no fim de semana, hoje não dá. Tenho que trabalhar amanhã.
- Ah, você tá falando sério?
- Tô! Vamos amanhã!
- Tá bom, me dá seu telefone.
Ela escreveu num guardanapo do Mac que estava no porta-luvas.
- Nossa, muito legal te encontrar chegando, quatro da manhã.
- Incrível, né.
- Quero te contar tudo que aconteceu comigo, por que a gente não se falou mais... Você vai enlouquecer.
- Ai, então não conta que eu já tô dando trabalho para muita gente com a minha loucura.
- Quem sabe você não pára.
- Tá! Me liga, vou entrar...
- Ligo, vai, boa noite, muita saudade de você.
- Vai passar, vai passar. (risos)
- Putz!
- Putz!
Ela entrou no prédio.

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