quarta-feira, 30 de abril de 2008

Agora barco?

Eu era o mar... Eu disse que era, ninguém disse que não.
Hoje eu estou mais para barco a vela, bote, navio ou batelão. Ah! Sem rimas, sem rimas!!!

Eu era o mar.
Hoje eu não vou para lá e para cá, não mudo de lado com o vento, não me choco mais com as pedras das costas do mundo.
Estou procurando um porto. Eu tenho um porto. Eu temo estar parada em um porto, mas não nego que minhas idéias são muito melhores agora.
Sinto como se pudesse mesmo ir em frente, sem ir para todos os lados. Sinto como se pudesse carregar o que me cabe, sem levar tudo que aparece na frente.
Sou mais um barco do que mar, quem diria.
O primeiro desenho que me vem na cabeça, o único desenho que eu sei fazer sem tirar o lápis da folha.
O vento leva o barco, a maré leva o barco.
MAS EU CONTROLO O LEME, EU CONTROLO A VELA!

terça-feira, 29 de abril de 2008

Mais ninguém

Decidi não incomodar mais ninguém.
Não falar para atacar, não omitir pelo sofrer. Nada.
Assino e termino todas as cartas que escrevi. Não renego, nem repito.
Decidi ser apenas o que posso ser e deixar serem o melhor de si, os seres todos.
Reconheci-me, por fim; apenas começo. Não era tanto quanto imaginava e nem tudo que achei que devia.
Levo em mim valores mortos, como hábitos que já não me servem. Arrasto pelos momentos, a pele morta que se desprende, o caminho serpentinoso que segue em frente.
Escrevo pensamentos incertos na areia à beira mar, abandono-os em meus suspiros.
Apenas estou, como se deve apenas estar.
Pela paz que eu pedi, pela calma que esperei, decidi apenas não incomodar mais ninguém.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Perdida no tempo. Ainda.

"QUARTA-FEIRA, DEZEMBRO 08, 2004

Perdida no tempo

Abro os olhos.

Que horas são?! Meu relógio não está no braço. Odeio estar sem relógio, perco a noção da minha vida.

Levantar a cabeça e tentar olhar no relógio da parede não é uma possibilidade. Eu sou míope. Não enxergo um palmo a frente do nariz. Não enxergo os olhos das pessoas, e nem a boca e nem o nariz, elas viram verdadeiros monstro sem rosto, bonecos de pano costurados.

Ainda na cama, pensando como eu vou fazer para descobrir as horas.

Não quero levantar agora. Espero que não seja hora de ir trabalhar. Ou pior, espero que eu não esteja atrasada para o trabalho.

Será que tem alguém na casa que pode me dizer que horas são?!

Silêncio mortal. Ninguém nas proximidades quarto-sala.

Começo a ouvir barulho de panelas. Poderia gritar (berrar) para a pessoa que mexe nas panelas me dizer que horas são. Mas eu acabei de acordar e, a menos que eu esteja com dor, não grito. Nem falo, muito menos grito.

Droga, onde será que eu coloquei meu relógio?

Começo a me lembrar de todas as coisas que eu tenho que fazer. E eu nem sei se vou ter tempo para elas. Por que eu perdi toda a noção de tempo.

Ok, pânico.

Além de tudo, o gato não está dormindo comigo. Alguma coisa está errada. O gato sempre está dormindo comigo quando eu não saio cedo.

Resolvo levantar e ver o que houve com o gato. Ele está deitado no chão da sala. Estranho. Ele nunca dorme no chão da sala.

"Querido, eu estava lá na cama, por que você está aí sozinho?"

Olho no relógio da sala, onze e meia.

Eu estou acordada as onze e meia?

Cadê a droga do meu relógio?! Eu vou destruí-lo!

Volto para a cama."


Eu não uso mais relógio. Eu não sou mais míope. O gato não dorme mais comigo.
Mas eu continuo indignada de acordar antes do meio-dia.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Miss Terious e Sir Vival - Saudade de nada

- Você não vai deitar?
- Não estou com sono, na verdade.
- Por que você quis vir dormir então, não gostou do filme?
- Não...
- Eu também não estava achando muito...
- Não! Não tem nada a ver com o filme.
- Ah, então o que?
- Estou sentindo uma coisa estranha, Vival.
- Que tipo de coisa estranha?
- Como se alguma coisa muito ruim estivesse para acontecer.
- Não vai acontecer nada, isso é besteira, deve ter sido o filme.
- Eu nem estava assistindo o filme...
- O que você está pensando dessa vez, menina?
- Quero chorar.
- Não chora, amor, não chora. Vem cá.
- Sinto muito.
- Não precisa sentir, tudo bem.
- Estou com saudades.
- Saudades de quem?
- Saudades de nada, só parece saudade, saudade de mim.
- Aonde você foi?
- Eu me perdi, tenho medo de nunca mais voltar.
- Mas você sempre volta, amor.
Olhou dentro dos olhos de Vival. Secou as lágrimas.
- Eu sempre volto para você. E quando você não estiver?
- Quando eu não estiver, eu vou estar perdido também.
As lágrimas voltaram a escorrer.
- Te amo.
- Eu também, boa noite, amor.

Sem fala

Silenciei-me.
Parei por uma lágrima que pensou em correr e não correu.
Segurei o ar que lotava meus pulmões por mais um instante. Nenhum barulho.
Abafei todas as pulsações que meu corpo gritava em um abraço ao redor das pernas, encolhida.
Esperavam todos ansiosos a minha próxima fala, esperavam um grito, mas eu apenas calei.
Errei meu último texto, minha última chance. Não soube o que dizer quando a platéia começou a se inquietar. E na espera de um grito, quando encarei-os nos olhos, a única coisa que pude fazer foi estar lá, paralisada.
Pareceu certo, parecia proposital. Re-inventei a arte do não saber o que falar.
Saí, esperando que as palmas finalizassem o que eu não sabia finalizar.

Inferno

Então é disso que o inferno está cheio?
Deve ser, deve ser... É o que dizem!
Passei a noite acumulando pesadelos, sonhando que estava com frio.
São as boas intenções, são elas. Que são ruins até que se prove o contrário, é claro.
Claro? Não, nada é muito claro, afinal.
Lembro-me do meu risinho ainda. Sinto sua falta, risinho, de lembrar de quando uma boa intenção era só uma boa intenção. Não existia medo, não existia nada... Era um acidente engraçadinho, um momento que foi tão minúsculo que não conseguiu ser lembrado.
Um erro, é o que foi. Mas eu não sabia, eu dei risada.
Agora eu me sinto procurada. Uma acusação que me envergonha. Ninguém vai entender o meu risinho, ninguém viu.
O inferno está cheio, eu não vou para lá, não gosto de multidões.
Quem está julgando sou eu, quem está condenando sou eu. Vou fugir! Só D'us sabe de quem...

Mas meu horóscopo disse que ia ficar tudo bem. Ufa!

A gente guarda tanto lixo em casa
A gente guarda e amontoa raiva
A gente guarda amor e ele se estraga
A gente guarda palavras caladas

A gente guarda

A gente guarda o choro na garganta
A gente guarda tudo em segredos
A gente guarda sonhos no papel
A gente guarda saudades e medos

A gente guarda
E já não há espaço pra tanta tralha

A gente guarda sempre carinho nas mãos
A gente guarda fôlego no peito
A gente guarda sorriso entre dentes
A gente guarda e perde muito tempo


A gente guarda
E já não há espaço pra tanta tralha


Tralhas (Marco Vilane/ Alex Sant' Anna)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Pulsando, tremendo

Tenho uma inocência pervertida. Uma vontade de curar-me com toda a malícia que houver.
Pulso como nunca antes alguém pulsou. Tremo.
Anseio com todos os poros que me cobrem, desejo com todas as forças que se criam.
Vou fazer feliz o que houver para ser feito, com o que houver para se fazer. Não deixarei nada por um 'podia mais'.
Até o fundo, até a borda, por todos os limites que houverem em todas as dimensões.
Dedico-me, aprendo, ensino. As bochechas rosadas de calor e não de vergonha. Nunca mais de vergonha, é o que peço!
Sou o suor que espera, a saliva que mina, a dor que não sinto.
Puxa-me!
Sou o pulsar de um corpo estático, rosado, suando, minando e doendo. Sou a vergonha de ter essa inocente malícia e de não me envergonhar, afinal.
Tremo!

domingo, 13 de abril de 2008

Estais, presente

O ar quente que entra pelos pulmões, a brisa fresca no ventre.
Olha-te no espelho, tu és bela quando estás serena.
A pele que roça noutra pele de outra parte de teu lânguido corpo.
O caminhar arrastado, levando para muito mais longe do que a pressa de antes que levavas em ti.
Sabe-te agora, ficas!
Escutas esse silêncio que enche teus ouvidos de paz. Ouças a música que cantarola teu coração. Batucam-se os sinos, dedilham-se os tambores.
Isso é a tua vida, que renegas com essa cabeça insana.
Deita-te. Sente o teu cheiro aqui, ficas!
Teu olhar parado, afinal, não significa mais ausência.
Abras os braços para fazer morada em todos os olhares. Abras o coração que esse amor não mais escorrerá pelos teus dedos.
Agarra-te a ti mesma, segura-te com força.
És presença agora, ficas!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Ócio

Dói-me a face. Por que me disseram que é a única coisa que eu sei fazer, doer.
Olho para os lados, não há ninguém. Não há perigo. Abaixo a cabeça e levo as mãos à boca, inconformada.
Por que busco essa dor no peito que hoje não quer mais doer?
Quero revolucionar toda a humanidade e dizer que está tudo perdido. E depois dizer que não é verdade. Quero gargalhar e dormir, exausta. Quero estar embriagada quando eu me apoiar no seu braço.
Não consigo mais. Eu não sei por que. É essa cabeça doente em busca de riscos desnecessários. Um corpo sem família, um coração desregulado...
Eu não sei por que.
Ainda que busque meus desesperos passados, sinto-os usados, superados. Não são mais nada além de vergonhas, e eu não busco vergonhas.
Inquieto-me. O que estou buscando? Aonde vou buscar?
Estar certo é estar errado, afinal, em alguma parte de minha noção. Em alguma parte da minha vivência, buscam-se novidades, alguma coisa que ainda não foi resolvida.
Estou buscando ter algo para contar amanhã que seja completamente diferente do que andei contando nos últimos dias.
Quero dormir sem pensar, exausta. Sinto a energia pulsando em meus braços e pernas quando estou parada. Quero sair correndo...
Não tenho para onde ir. Na verdade, não quero, de fato, ir a lugar algum. Queria que o lugar onde eu estou magicamente se transformasse em *plim* algo novo.
Cansa-me saber o que será do dia. Cansa-me ser eu todos os dias, eu julgo demais, compreendo demais...
Talvez se eu voltasse a ser milhares, chorasse sem razão, não conseguisse dormir, não conseguisse comer, falasse e mentisse, voltasse e pedisse perdão... Não, isso também não.
Dói-me a face. Meus músculos não estão acostumados com esse sorriso de paz. Meus nervos também não... Essa calmaria me corrói.
Quero correr sem sair daqui, quero fugir e levar tudo comigo.
Inquieto-me. O que estou buscando? Aonde vou buscar?

terça-feira, 8 de abril de 2008

A história do cão dinamarquês

Estava vagando sem rumo pela cidade, procurando sarna para me coçar (rá!).Um cachorro de grande porte com uma coleira de couro passou por mim a passos rápidos. Olhei para trás. Achei que o cachorro pudesse ser da senhora de guarda-chuva que vinha logo atrás de mim. Andei mais alguns metros e assobiei. O cachorro brecou, veio em minha direção. A senhora de guarda-chuva perguntou a mim, quase ao mesmo tempo em que perguntei a ela se o cachorro era dela, se o cachorro era meu. Respondi que não e o cachorro fugiu por entre nossas mãos, seguindo seu caminhar a passos rápidos. Ela foi atrás dele. Eu também. Encurralamos o cachorro, a senhora de de guarda-chuva, um rapaz e eu, quando ele parou para cheirar uma cadela no cio, dentro de uma casa. Peguei-o pela coleira, não havia medalhinha com o telefone do dono. Lamentamos, todos, durante alguns minutos e ficamos apreciando o belo cachorro perdido. Um outro rapaz em uma moto parou e perguntou se o cachorro era nosso. Respondi que não, que estava perdido. Ele disse, "e é um dinamarquês...". Perguntei se ele gostava de cachorros, mas ele logo respondeu que não poderia ficar com aquele por que já tinha um macho adulto em casa. A senhora de guarda-chuva disse que tinha dois e mais alguns gatos. Eu disse que morava em apartamento. O rapaz não disse nada. O outro rapaz da moto despediu-se lamentando não poder ficar conosco e ajudar em alguma coisa. A mulher de guarda-chuva, disse que veria se o Sr. Antônio do posto não poderia ficar com ele e sugeriu que nós o amarrássemos em algum lugar. O rapaz disse que havia visto uma corda amarrada em um árvore no parque que ficava ali embaixo e foi até lá buscar. Vi-o pulando os portões do parque. Depois de alguns minutos voltou com a corda que tinha até uma presilha para ser colocada na coleira. Assim despedimos-nos todos e desejamos sorte à mulher de guarda-chuva que prometeu colocar uma faixa caso o Sr. Antônio do posto pudesse ficar com o cachorro. Fomos embora então, eu, o rapaz, a mulher de guarda-chuva e o cão dinamarquês.

Relances

Estou com essa mania de querer rimar tudo.
Sh!

Quero ficar em silêncio, sh!


"
Texto da Ondinha na Barriga

Ninguém sabe como eu ardo quando penso neste menino. Vindo de um passado bastardo, flechou-me com um sorriso, rasgou-me como um leopardo. Atuou em mim de improviso, criou em mim um fardo e ensinou-me a ter juízo. Reconheço-o, felizardo, que veio do paraíso! Seu nome, sem mais retardo, é Eduardo, desde o batismo.
"

XXX

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Recital

Recito-me.
Conhecem-me, todos, com meus pontos e vírgulas? Ouvem-os? Respiram-os?
Afinal, não me defino. Duplicam-se os sentidos. Triplicam-se!
São apenas palavras que viram velhos sentimentos registrados? São meus sentimentos sendo registrados em palavras?
Não me lêem com o tempo que deveriam, com a calma que deveriam. Aceleram minhas pausas.
Não me escutam nesse silêncio. Nem eu, nem vocês mesmos.
Encham os peitos com meus pontos, gritem as minhas exclamações, questionem minhas interrogações. Sintam-me!
Entenderão-me, não pelo que falo, mas pelo que pontuo.

Era isso!

Meu sorriso, desconcertado.
A lição da minha vida. Era o tempo, a espera, a demora? Era isso?
E meus pensamentos criaram tantos atalhos, tantos retornos...
Era momento, era menor, era fácil. Não foi. Gritei, minha voz fraquejou, calei.
Era isso? Era tudo, mais verdade do que nada antes, havia sido?
Quantas mentiras inventei para suportar a dor da realidade? E eram minhas verdades.
Era isso...
Eu precisava encontrar em mim, o que antes não havia. Encontrar nos outros, o que não me ofereciam.
Eu precisava conhecer a paz, sem tê-la. Finalmente entender...
Era isso? Uma confusão e contradições que me levariam exatamente para onde eu queria (e eu disse que não?)?
Meu sorriso, desconcertado.
Ponho fim nos meus velhos começos?
A razão, sem noção.

Mas não vou falar muito que dá azar...
 
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