segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Frases de um acaso

A água escorria pelo seus ombros. Pegou-se pensando no futuro, como se fosse ontem. Temeu, por que sempre teme perder o controle, perder mais que o controle. Teme perder o medo e luta contra ele. Desligou o chuveiro, enrolou-se na toalha sem se secar. Pegou um caderno com capa de couro na gaveta do quarto. Desamarrou o pequeno laço que o envolvia. Estava ali, tudo que ela podia não se lembrar, tudo que fazia questão de deixar anotado para posteridade. Abriu o caderno ao meio e correu os olhos pelas frases: "no futuro, que ninguém sabe o que será?", "o respeito ao que ela sabe que vai passar", "está me tentando, meu próprio subconsciente", "mostra-me seu novo olhar...". Ia se lendo em cada frase sem contexto, a cada monte de páginas que ia virando: "sou uma ferida que não foi cuidada", "quero dizer, não sei", "que medo pode haver quando não há nada?". Apenas frases, ignorava os textos, reconhecia-se apenas pela caligrafia, tentava achar uma mensagem como obra do acaso divino: "sinto-me uma pessoa fora de lógica, fora de ordem", "não fiz nada demais e ainda assim fiz tudo que fiz", "foi a continuação da noite e a idéia toda de não saber por onde começar", "meu corpo inteiro formigava", "uma vida é pouco por que queremos muito mais". Eram suas as palavras e lhe diziam tanto... Fechou os olhos, fez um pedido, pediu que tudo se resolvesse, que fosse enfim uma frase que iluminasse a mente, virou mais um monte de páginas e leu "que é o tempo, que não tem nexo, que vai ditar o quando, o onde e o porque". Entendeu que não havia o que se entender. Era só a sua palavra, era tudo o que ela podia saber.

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