sexta-feira, 28 de março de 2008

Ai destino, não maltrata assim...
Hoje a dor no peito, só lembra o prazer que você me trouxe.
Destina-me, minha estrada, que eu ainda vou me perder nessas suas voltas.

Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura…

Meu coração não chega lá decerto…
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto…

Eu tecerei uns sonhos irreais…
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!


Florbela Espanca - Trocando olhares - 23/04/1917

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