quinta-feira, 13 de março de 2008

Um dia desses

Ela abriu os olhos. Olhou ansiosa para o relógio. Ainda eram cinco da manhã. Fechou os olhos e depois abriu-os de novo. Nunca conseguiria dormir...
Sentou na frente do computador com a luz apagada. Não queria que ninguém soubesse que ela estava acordada as cinco da manhã. Não queria que ninguém soubesse que ela não conseguia mais dormir, que estava ansiosa, desesperada, perdida, sozinha, desolada.
Perdeu uma hora buscando coisas que não devia, entrando em sites que não podia, com acessos proibidos, imaginando impossibilidades, descobrindo a realidade.
Quando já não podia mais aguentar tudo aquilo que via na frente, levantou-se e correu para o banheiro. Abaixou-se na privada. Não tinha nada no estômago, mas desejava vomitar, sentia a ânsia. Eram as tripas, virando coração, pensou.
Levantou-se, lavou o rosto, a boca, a nuca, os punhos.
Abriu a porta do banheiro e encontrou sua mãe.
- O que foi?
- Estou passando mal.
- Eu falo para você não ficar comendo esse monte de doces...
"Se não tivesse sido mesmo tudo tão doce...", pensou, sem responder nada.
Trocou de roupa, pegou a chave do carro e saiu.
- Aonde você vai?
- Dar um volta.
Dirigiu sem rumo pelas ruas do bairro. Só não saiu do bairro por que não queria ficar no trânsito das sete horas, senão teria ido para longe, para praia, para qualquer lugar.
O fim de uma rua deu numa igreja. Parou o carro, foi até lá.
Ajoelhou-se em um dos bancos do fundo e começou a chorar, soluçar, pedindo a D'us, "por favor, paz, só paz, para mim, para todos, só paz". Ficou repetindo isso em pensamento. Quando abriu os olhos e olhou aquele corpo crucificado na frente e as suas lágrimas derramadas por si mesma, sentiu. D'us tinha mandado alguma paz.
O celular tocou:
- Filha, aonde você está?
- Estou indo para casa, mãe.
Entrou no carro e recusou-se a chorar por aquela besteira. Sentiu-se em paz por não chorar.
Voltou para casa. O dia estava só começando e não era assim que ia acabar.

Um comentário:

Fábio Félix disse...

Nós quase sempre escolhemos as cruzes que carregamos. Ele também escolheu. Por quem são as suas escolhas?

 
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