sábado, 22 de março de 2008

Chuva na ladeira

A consulta foi adiantada para as 14h30. Tudo bem.
Acordei mais cedo e fui encarar a loucura que seria aquele dia de trabalho.
Às 14h, meu carro não dava a partida. Fui de táxi.
Às 16h eu ainda não tinha sido atendida, e as loucuras do dia continuavam rolando fora daquela sala de espera.Impus-me não estar com pressa.
Li uma reportagem de 6 páginas sobre suicídios apoiados pela internet.
Quando finalmente tive minha consulta de 5 minutos para ouvir "legal, volte daqui 2 meses", a chuva começou a cair.
Não uma chuva, mas uma baita chuva.
E então o celular tocou e era para eu estar na Freguezia do Ó em 1 hora. Naquela baita chuva, às 17h. Eu dei um jeito, não tinha como ir.
Tinham dado um jeito no meu carro também, uma chupeta, umas razões. Pelo menos podia voltar de carro para casa naquela chuva.
Mas teve um instante, enquanto eu voltava, em uma subida, que era uma esquina, na qual só passava um carro, e a chuva havia transformado a valeta em uma cachoeira, e meu carro tinha me decepcionado fazia menos de 4 horas, e meu celular tocou naquele mesmo instante, e era o meu chefe, depois daquele dia louco de trabalho... Que eu vi a minha vida inteira aos pedaços.
Troquei a bateria do carro, por via das dúvidas.



A ÁGUA da chuva desce a ladeira.
É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
A terra a ditosa.

Há muitos que contam a dor e o pranto
De o amor os não qu'rer...
Mas eu, que também não os tenho, o que canto
É outra coisa qualquer.

Fernando Pessoa

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